quarta-feira, 16 de março de 2011

Cego é a quele que não vêr



Existem mais coisas entre o cérebro e a retina do que supõe nossa vã filosofia. Mas uns supõem mais do que outros. Alguns menos. Ver, observar, perceber e compreender nem sempre são verbos similares/complementares ou mesmo coexistentes. Para cada fato concreto corresponde uma visão abstrata, uma danada de uma interpretação que teima em distorcer, super ou subestimar e até inexistir em determinados casos. A visão turva, essa miopia triste ou um astigmatismo crônico acontecem muito quando os fatos envolvem emoções atrapalhadas do coração. E é por culpa desses males que ficamos cegos perante o óbvio, muitas vezes. Alguém que vê o desinteresse do outro e, esperançoso, desenvolve uma hipermetropia capaz de enxergar além dos fatos, enganar-se com miragens provocadas por sua sede não satisfeita ou correspondida. Outrem que sequer altera suas impressões oculares diante da paixão escancarada de quem ocupa a ala de amigos no seu peito, mas gostaria de visitar cômodos mais quentes. Pior cego é o que não quer ver...porque ele enxerga, mas não assimila. Percebe, mas não crê. O que vê é o que deseja, o que satisfaz seus olhos como colírio. Lentes corretivas, filtros, películas, líquidos que desembacem: vale tudo para olhar o que existe de fato. Ver o óbvio e se convencer pode poupar boa parte das desilusões, próprias ou alheias. Óculos podem até dar charme e distinção. Mas nem todo cego gostaria de poder usá-los.

Nenhum comentário:

Postar um comentário